É quando o sol com seus oráculos
ateia fogo à tarde que multiplica-se
nas horas de silêncio e mormaço
enquanto nas frutas adormece o açúcar
amadurecido – na carne – através do dia
O dia é esse: estas manhãs e tardes
acesas num relâmpago que se propaga
em convulsão; esta combustão de luzes
súbitas arrancadas das entranhas do céu
esta flor em fogo que nos incinera em silêncio;
Dia – objeto
do tempo – elemento
necessário à sublimação vegetal. Sob seu árduo
trabalho
a arquitetura do sol
a alimentar algebricamente as articulações da terra.
Presa ao chão, a raiz submete-se à necessária
escuridão.
O dia findo previsto na conjuração carnal
previsto no calendário obtuso
nas hordas televisivas
e um sol freqüente a questionar-me
( e eu a ele ) o desgastar das nossa vidas;
indagar a si mesmo é como prever
a própria morte. A morte dissecada
nos relógios
na amputação das horas.
Sol. Fúria de anjos sobre a pedra e o mar inadiável
sobre a pedra e o sal incendiando-se sobre
a pedra sempre pedra acesa ao sol
crepúsculos de incêndios purpúreos apagados
pelo mar aflito a rebentar irrequieto
sobre as constelações das praias
sol sol que espero sob tua agonizante vigília?
eu – verbo presente a conjugar-me –
aceso o amor das horas escaldantes
sepulcro de vozes inabitadas nas gargantas:
a piedade dos anjos não nos libertará
dos verões diurnos
O sol é cúmplice da pedra no silêncio
e no soluço onde te abraço e confesso:
onde se alimenta o fogo destas horas?
Poesia de Jorge Jansen
2º Lugar no Concurso LetraFenae Poesia 2006
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