Nascido em Caxias em 1823, Gonçalves Dias está intimamente associado à Canção do Exílio, poema escrito em Portugal, após longos tempos longe da pátria, com saudades da terra natal.
Porém o lado mais dramático da poesia de Gonçalves Dias são os poemas inspirados em sua musa, Ana Amélia Ferreira Vale. Dramático porque o poeta ultrapassa a sublime utopia da inspiração poética à veemente paixão por uma linda jovem. E nesse momento confronta-se a fragilidade de homem tímido, indeciso e fortemente acuado ao preconceito social de sua cor e raça contra a sociedade que o cerca. Se por um lado a literatura o orgulha de possuir o sangue das três raças formadoras do povo brasileiro, a vida real o condena por ser um mestiço e isso lhe impede o casamento com Ana Amélia.
Acuado pela negação de seu pedido de casamento com a bela jovem, retorna deprimido a Portugal. Ironicamente, anos depois, sua amada acaba casando com um homem de mesma condição racial, que ao contrário de Gonçalves Dias, recorreu até a justiça para dar ganho de causa a sua ambição.
E eis que em Portugal, um dia, poeta e musa amada se encontram casualmente e se deparam sob o manto da infelicidade conjugal de ambos. De não ter ousado mais, de não ter enfrentado seus opositores. Ou pelo menos, de terem fugido, como era um dos planos do casal.
Em 1862, o poeta, vítima da tuberculose, vive em trânsito entre Portugal e Brasil em busca de cura para seu mal e no retorno de uma desta viagem acaba sendo a única vítima do naufrágio do Ville de Boulugne, no baixio de Atins, na Baixada Maranhense, deixando-nos por escrito a inspiração daquele dia no Jardim Público de Lisboa.
AINDA UMA VEZ, ADEUS!
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei!
Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!
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Um comentário:
A poesia destila das palavras, emoções!
Parabéns pelo blog!
Abração!
Rânide.
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