sexta-feira, 10 de junho de 2011

ALMOÇO ÀS ESCURAS

"Não coma neste restaurante"

Cheguei a conclusão que só existem dois tipos de restaurantes: aqueles que você olha a comida antes de pedir e aqueles que você não vê o que vai comer. Os primeiros fazem o tipo self-service onde você faz uma mistura explosiva de gases retardantes cuja equação desbalanceada lhe reporta às aulas de química do ensino médio e geralmente quando você sai de lá e volta pro serviço, com aquela cara de lerdão, olha pras paredes e pensa em voz alta: "Pô, só faltava uma rede agora, porque as paredes já tem!"

No caso daqueles últimos tipos, eles se dividem em duas sub-espécies: aqueles que você não vê nadinha da comida que você vai pedir e aqueles que tem uma foto do prato que você vai escolher  no cardápio. Neste caso, por experiência própria recomendo comer naqueles que você não vê a foto porque a decepção - se houver - é sempre menor. Evite aqueles que colocam a foto no cardápio. A sensação que eu tenho é de que a comida não é tão boa quanto parece e a foto tem um efeito subliminar na sua fome, porque quando a refeição chega, sua primeira reação é correr pra pegar o cardápio novamente, olhar pra foto, olhar pro prato, chamar o garçom e perguntar:

- Tem certeza que foi este o prato que eu pedi?
- Com certeza, senhor!
- Mas olha a foto aqui no cardápio...Tá diferente...Era pra ser mais colorido...Mais suculento...
- É porque no dia que tiraram esta foto, o dia estava bem claro, diferente de hoje que tá chovendo...O senhor sabe, a iluminação faz a diferença nas fotos...

Um garçom que entende de fotografia... Será que o cozinheiro é comediante?

Hoje aconteceu uma cena parecida comigo. Faminto, pois só consegui sair para almoçar lá pelas 14:00hs, pedi um prato da fotografia: arroz com legumes e um filé trinchado acompanhado de fritas amarelinhas, douradas e suculentas que me deixaram com água na boca. Depois de uns vinte minutos percebi que os atendentes haviam esquecido de mim pois observei que eles discutiam entre si enquanto pegavam refeições que vinham da cozinha e me olhavam e apontavam pra outra mesa e me olhavam de novo e discutiam e eu, evitando pensar que o garçom que me esqueceu era um FDP, utilizava todo meu poder zen e pensava nas batatas amarelinhas e no filé trinchadinho. Dez minutos depois (que pareceram meia hora) o garçom trouxe o prato e um pedido de desculpas pela demora. Apesar da fome o prato não parecia com aquele da fotografia. Pra começar era difícil distinguir quem era batata de quem era filé trinchado, pois elas estavam da mesma cor da carne. Decidi a arriscar pelo sabor, mas a primeira batata que coloquei na boca estava dura e mal frita. Mas fome é foda. Comi e a boa notícia é que já se passaram mais de cinco horas e continuo vivo. 

Na hora de pagar a conta pensei em entregar ao garçom apenas a metade do valor que foi cobrado aguardando ele me dizer:
- Senhor, está faltando dez reais...
- Não foi vinte reais a conta? Aí estão os vinte reais...
- Aqui só tem dez reais, senhor...
- Não amigo, isso é uma nota de vinte. Você não está vendo direito por conta da iluminação. É que hoje tá chovendo. Você sabe, pouca iluminação atrapalha....

Nenhum comentário: