domingo, 27 de fevereiro de 2011

A ESSÊNCIA DAS COISAS INTANGÍVEIS


Eu faço parte de uma raça extinta que comprava LPs de vinil até o início dos anos 80 e que, devido a um cataclismo fonográfico, foi obrigada a migrar para os cds e mais recentemente para os pen-drives e i-pods.

Quem não viveu a fase dos vinis nunca vai entender perfeitamente a magia de curtir um bolachão na vitrola. Tirar o LP da capa e daquele saquinho plástico que ressecava com o tempo, sentir aquele cheiro sutil do acetato, passar uma flanela no disco, colocar no toca disco, ligar o receiver e o amplificador e escutar os primeiros acordes fisgados pela agulha do aparelho. Daí era pegar a capa do disco e ficar um tempão maturando as fotos, acompanhando as letras, lendo a ficha técnica, imaginando a cada música como foi todo o processo de criação e gravação do disco.

Quando vieram os cds e suas promessas de qualidade musical, sepultaram a grandiosidade dos encartes e posters que acompanhavem os vinis. Diria que 50% do encanto de ouvir música perdeu-se ali. Mas ainda assim cabia-nos um prazer de manter uma coleção bem arrumada em ordem alfabética já que os cds ocupavam menos espaço. Depois aquilo que conhecíamos como música transformou-se em arquivos de computador armazenados em pastas que migraram para pen-drives e i-pods, causando a segunda extinção em massa em poucas décadas. Agora ouvir música se tornou um desconforto porque você não consegue descobrir, sem perder tempo, em qual pen-drive esta a música que você quer ouvir e os portáteis transformam você em pessoas solitárias com aqueles irritantes fones de ouvido. 

Colecionar cds e vinis era uma coisa imponente que impressionava seus amigos quando eles entravam na sua sala e viam aquela estante abarratoda, com uns 100 ou 200 discos dos seus estilos preferidos. Era só aguardar o UAU!!!! Hoje quando alguém me diz que tem 40, 80 gigas de música no PC não me causa o mesmo impacto e eu não consigo visualizar o que aquela pessoa ouve, sentir seu feeling.

A recente ressurreição do vinil tem mais efeitos capitalistas que sentimentalistas. Para conviver lado a lado com as outras mídias, transformaram-no em objeto de cultos para DJs e alguns abonados. Pra mim isso soa semelhante como se fosse possível ressuscitar os Neandertais e trazê-los de volta ao convívio com os Homo sapiens. Evento que somente atrairia a atenção de poucos como antropólogos e paleontólogos.

Mas nada devolve a essência das coisas. Principalmente quando elas são intangíveis.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O VELHO ARQUIBALDO


A última vez que vi o velho Arquibaldo ele cruzava a praça com sua espada enterrada nas costas carregando sua faina de Sísifo indigente.

Ninguém sabe ao certo desde quando ele tem aquele metal reluzente cravado na carne. Uns dizem que o ferimento foi adquirido durante as Guerras Púnicas, mas há quem afirme que esse desassossego vem desde a época de Alexandre, o Grande, em sua incursão na Ásia. Não sei ao certo, é verdade, e nem convém questionar a sua dor, porém certa vez a curiosidade aguçou meus sentidos e então lhe perguntei sobre o ocorrido, mas a demência que já lhe atingiu as faculdades mentais e lhe impõe devaneios fez com que ele começasse a dissertar sobre o ciclo reprodutivo da poecilia reticulata durante o verão nos charcos mexicanos.

Às vezes percebo que ele fica balbuciando palavras incompreensíveis como um velho alquimista medieval enquanto alimenta as aves, mas eu poderia jurar que tais palavras são poemas de Homero recitados em grego arcaico. Porém, como de outras vezes, eu posso estar enganado e o velho Arquibaldo esteja apenas falando a linguagem dos pombos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

SEXO RETRÔ

Logo, logo, o modelo de relação sexual como conhecemos fará parte de uma onda retrô. Eu já até comentei sobre isso em outro post citando passagens do filme O Demolidor com Stalonne e Sandra Bullock; e se a vida imita a arte, acrescente aí mais uma pitada de Os Substitutos, com Bruce Williams onde as pessoas criam seu avatar para ser dublê de corpo. 

Minha tour nesta perversão começa com o kinetic - o novo sistema de controle - adaptado para ser utilizado em jogos eróticos, onde o jogador literalmente poderá tocar e interagir com a personagem virtual usufruindo de tudo que sua mente doentia imaginar. Estes jogos ficarão a cargo dos hacker e vão inundar as bancas de camelô e dificilmente serão lançados pela Microsoft, pois a empresa de Bill Gates permite apenas jogos com armas, sangue, violência. Eróticos, não.

A famosa mão-boba

Mas eu fui atrás do melhor: para manter meus leitores informados, também fiz uma pesquisa ( na internet, não em campo) sobre as Real Dolls - a versão turbinada das ultrapassadas bonecas infláveis - e fiquei impressionado. Acessei um site que disponibiliza o produto e fiquei montando a minha parceira como se fosse comprá-la. É possível montá-la (no bom sentido) ao gosto do freguês: formato do corpo, cor e tipo dos cabelos, tom de pele, olhos, boca, unhas, etc. Só que o preço final é bem salgado: em torno de US$ 6.000,00. Isso sem contar os acessórios que podem ser comprados para as Dolls: colares, lingeries, sandálias e outros badaluques. Só que por este preço dá pra se divertir bastante com muitas mulheres de verdade. Mas muita gente depois de velho está gostando de brincar de boneca. Não vou postar fotos detalhadas aqui porque este é um blog familiar que preserva a moral e os bons costumes, mas vou deixar o link para os curiosos. É só clicar aqui.

Gostou? Eu sou de plástico!

Outra opção que pode ser combinada para as orgias são disponibilizadas por duas empresas americanas da área do entretenimento. A primeira são os filmes em 3D com dezenas de câmeras pegando cada detalhe do ambiente de cena, como se o usuário interagisse em primeira pessoa num videogame erótico, pela internet. A outra é uma vagina artificial de látex com motores e aquecedores, que se conecta ao computador por uma entrada USB e sincroniza os movimentos e sensações com os vídeos transmitidos pela internet. Esse último acessório, só de imaginá-lo, já me vem a piada sobre o taradão descuidado: alguém abre a porta e vê o cara pelado com aqueles fios saindo do pinto para o computador. Só não leva choque porque tá aterrado.

E se você começar a ligar pro seu amigo, aquele seu chapa que está sempre pálido e amarelado, convidando-o para sair e ele sempre insistir em arrumar uma desculpa do tipo "hoje não vai dar",  preste muita atenção na tonalidade da voz do indivíduo: ele pode estar se divertindo com um destes brinquedos. Liberte-o, senão o cara vai definhar.

Como se pode ver, tudo isso é um prato cheio para os onanistas de plantão.

Mas não se empolgue achando que a carne seca somos nós. O mercado também oferece coisas similares para as mulheres que nem de longe vou ilustrar aqui pois este é um blog-espada. E se pensarmos que isto é apenas o começo, não é de se espantar se dentro de alguns anos uma garota faça a mesma cara de nojo e espanto de Sandra Bullock quando um cara quiser ter uma relação sexual natural: “Sexo com troca de fluidos? Eca! Que nojo!”

Nesse ponto quero ser um antiquado amante a moda antiga e cantar: "Eu quero me enrolar nos teus cabelos/abraçar teu corpo inteiro/morrer de amor/de amor me perder".

Retrô até a medula!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

MELHOR DANÇA DE BAR PT. 2

Porque os bares que eu frequento não tem uma dança assim?



Por uma vampira assim até eu daria o pescoço.
Morde! Na jugular!!!!

MELHOR DANÇA DE BAR PT. 1

O que acontece quando você chega num bar cheio de gatas?



Ao som de Down in Mexico, do The Coasters

sábado, 5 de fevereiro de 2011

HOLANDESAS NO AQUÁRIO


Na vida só existem duas certezas: a morte e os impostos. Por conta desta frase, eu acredito mais em Benjamim Franklin como profeta do que em Nostradamus.  Os holandeses também: só que em um nível muito mais  sério quando resolvem tarifar as profissionais do distrito da luz vermelha, com alíquotas de 19 % de impostos.

Para alguém de fora como eu, na Holanda as palavras liberdade e libertinagem devem ter um único sentido. Ou se completam. Por lá, é possível consumir nos cafés, sentado em mesinhas, maconha ou haxixe enquanto se lê o jornal, escolher prostitutas em vitrines ou fazer sexo ao ar livre durante o dia num parque público. Tudo dentro da lei.

Eu me lembro que a Holanda só passou a fazer parte do mundo quando eu vi o carrossel da laranja mecânica. Depois vieram as loiras de pernas longilíneas por quem eu me apaixonava nas revistas, já que no início, eu achava que as holandesas eram apenas as vacas que meu pai criava no sítio.

Eu e uma jovem holandesa

Mas eu não sei foi como surgiu a ideia de colocar mulheres na vitrine no distrito da luz vermelha. Se pela dificuldade de pronunciar prostitutas em holandês ou se aquilo é uma evolução em maior escala daquelas máquinas de bichinhos de pelúcia dos shoppings onde a gente colocava uma ficha e tentava capturar um deles com uma garra.

Existe uma terceira hipótese que mais parece uma lenda urbana. Ela reporta aos tempos vikings onde aqueles guerreiros passavam suas tradições e seu nome aos descendentes, do tipo como faziam os indígenas da América. Sabe aquela história de Touro-Sentado e seu filho Touro-Pequeno? Por lá os filhotes vikings eram identificados com o prenome Van Der. O que significa algo como Filho de... E a Invasão Holandesa no século XVII trouxe isso às terras tupiniquins dando origem a nomes como Vanderlene, Vanderley, Vanderlea, Vander Lee, etc. Aliás, eu não sei o que Vander Lee significa: se que dizer filho de Bruce Lee, de Rita Lee ou das calças Lee.

Parece que a ideia surgiu numa época em que os cafetões perceberam que a produtividade dos seus negócios estava caindo porque as prostitutas ficavam muito soltas, sem juízo, e muitas delas ficavam grávidas e a população crescia desordenadamente dando origem a  muitos Van Der Bitch o que onerava os prostíbulos com despesas de criação e adoção.

Mulheres em exposição na vitrine deve ser o horror das feministas xiitas. Ainda bem que o mundo é muito maior que a bolha em que vivemos. O certo é que oferta de mulheres na vitrine é como pescar no aquário: o cara só joga o anzol se o peixe for do seu agrado. Imagino se do lado de fora das vitrines, para o espectador, existe um local com uma fenda e os dizeres “Insert Coin”, como nos flippers.  Aliás, eu me pergunto como é que se taxa o sexo com prostitutas? Se com um leitor de código de barras de pelos pubianos nas partes íntimas das profissionais ou introduzindo um cartão com chip pra detectar o tempo de uso como numa catraca eletrônica. Será que o fiscal de sexo é uma pessoa realizada na profissão?

Por situar-se geograficamente nos Países Baixos, a Holanda já está bem mais perto do Inferno, pro delírio dos capetas de plantão. Já está marcado no Livro de Deus com um X em vermelho: o Dia do Juízo Final começa por lá.

Sob este cenário e uma garrafa de Absinto, Van Gogh certamente cortaria a outra orelha. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O ATIRADOR DE DARDOS


Quando atingi uma certa idade e a melancolia de que o tempo agora entraria em contagem regressiva e que a morte, este animal covarde e traiçoeiro, viesse me abocanhar em silêncio, passei por um período de catarse diárias até que o hiato entre as distâncias do que tinha feito antes se tornaram cada vez mais esparsas e um dia me interessei por dardos. 

Num catálogo, presenteado pelo samorim das Índias, encontrei um modelo muito antigo que logo  me agradou e então liguei para a loja para encomendá-lo. Não demorou até que o entregador aparecesse na minha porta com a encomenda em uma caixa de papelão cru semelhante às embalagens de pizza. Passei a ocupar meus dias com este ofício. 

Instalei o alvo no terraço pra escapar do mofo que habitava na casa. No princípio praticava sozinho, mas depois vieram os pássaros e a presença deles me causou certo aborrecimento a ponto de me fazer retornar ao interior da casa.

Aperfeiçoei-me rapidamente ao equilíbrio dos dardos e logo me cansava a monotonia quando resolvi praticar alvejando as flores. Especialmente as vermelhas e as amarelas. Acertava-lhes exatamente no centro evitando assim qualquer dor e oferecendo-lhes uma morte súbita. Consumi todas as papoulas e girassóis até que comecei a invadir os jardins alheios para alvejar outros espécimes. Tornei-me um terrorista procurado pelas donas de casa desassossegadas nos seus matrimônios infelizes.  

Havia atingido tamanha perfeição que comecei a praticar em moscas até que estas se tornaram escassas na minha casa. Então, parei de pôr o lixo na rua com intuito de atraí-las. A prática deu certo durante algum tempo, mas o mau cheiro que exalava começou a me pertubar profundamente.

Um dia, voltando ao terraço, percebi que um equilibrista num monociclo fazendo malabáries com peixes me observava. Intuitivamente fizemos amizade. Ele me convidou para acompanhá-lo numa turnê mundial e eu nem pensei duas vezes. Arrumei meu poucos pertences na velha mala de crocodilo - herança do meu avô, o Imperador Petrúcio III - e partimos.

Fizemos apresentações inesquecíveis para o rei do Tombasquistão, para a princesa negra de Gálaga, para o supremo-sacerdote da corte de Anghastira no alto dos montes nevados da fronteira com o Cratzmequistão. Meu amigo encantava as platéias rodopiando no mocociclo e atirando para cima um cardume de robalos que rodopiavam no ar e se transformavam em anchovas. Recebi o título de grão-mor da tribo dos pigmeus de Bwangar pela minha perícia com os dardos a ponto do imperador me convidar a fazer parte da tribo, convite educadamente recusado por conta do refinado paladar canibal dos pigmeus.

Mas o inverno rigoroso obrigou-me a voltar dos confins da Conchinchina. Rompi meu noivado com a princesa Tai-Mo Sing, e dizem (fiquei sabendo mais tarde) que após minha partida ela chorou tanto que suas lágrimas criaram o lago Rosa na cidade perdida de Sairuan. Mas a partida tornaria-se inevitável. Sentindo uma dor terrível no joelho fui a um médico que retirou da minha perna um dos meus dardos que estavam desaparecidos.

A monotonia bate em minha porta todo dia. Tentando evitá-la me disfarço de coisas invisíveis e vou cada vez mais a lugares improváveis como se fosse possível fugir do inevitável escrito do destino. Mas eu tento. Agora, por exemplo, me distraio passando minhas férias de verão em Magrathea ajudando Slartibartfast a fazer  fiordes na Noruega, embora ele seja um escultor medíocre e feliz.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

REHAB


Antes que alguém me pergunte se estou num rehab dos V.A.I. ( Viciados Anônimos da Internet ), digo-lhes que não. É só um problema de placa. Minha placa de vídeo deu pau. Essa é a ausência dos posts.

Aliás, é o segundo ano que acontece: chegou o inverno tropical e tchau placa. Química infernal. Lá seu Jorge morre em 200 contos.

Por enquanto matando a secura e dando notícias via netbook alheio.

Mas vivo, muito vivo.

Oh yes!