sábado, 30 de janeiro de 2010

FELICIDADE INTERNA BRUTA


Em que nível anda sua felicidade?

Este é o Santo Graal da ciência hedônica - a ciência da felicidade - que vem pesquisando e estudando o comportamento das pessoas para identificar as respostas para esta pergunta. 

Mas o que representa felicidade para algumas pessoas pode não representar para outras; um exemplo disso é o dinheiro. Segundo os analistas quando as pessoas saem da pobreza, há um aumento dramático da felicidade. Mas à medida que a renda fica alta, esse crescimento torna-se cada vez menor chegando a um ponto em que a curva da felicidade se estabiliza no conforto e começa a cair quando atinge o luxo.

A procura por sinais de comportamento da felicidade humana levou a alguns resultados interessantes de acordo com geneticistas americanos. Após pesquisas, os cientistas entenderam que 50% dos estado do humor é genético. Os outros 50% são complementados pela conexão social: amigos, casamento, grupos afins, etc.

Este conjunto de variáveis intangíveis que compõem a sua e minha felicidade começou a ser alvo de estudos desde que o rei de Butão, um pequeno país do Himalaia, vendeu a idéia de que a riqueza de um país não poderia ser medida simplesmente pelo crescimento econômico, mas por um indicador que se baseasse na integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual. Chamou este indicador de Felicidade Interna Bruta, ou simplesmente FIB.

Este novo conceito implode o antiquado modelo econômico onde a riqueza de uma nação é calculada pelo PIB, tão bem já questionado pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, que o equiparava ao cálculo aritmético que dividia uma galinha entre uma pessoa que comia e outras que sequer a tinham visto.

O FIB leva em conta o progresso de uma comunidade baseando-se em nove dimensões: padrão econômico, boa governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gestão do tempo e bem-estar psicológico. 

As empresas estão de olho nesta transformação de costumes e valores pessoais utilizando-se de um novo conceito de gestão, o Endo-FIB. Levam em consideração que pessoas felizes se saem melhor em entrevista de emprego, são mais produtivas e mais bem sucedidas e mantém mais coesão para trabalho em equipe, principalmente quando há o uso equilibrado do tempo. Pesquisadores concluem que seis horas de trabalho energético são suficientes e que o restante do dia deveria ser liberado para lazer cultural, socialização e atividade física.

Existe o site Felicidade Interna Bruta que merece uma espiada. Além de fazer o Teste da Felicidade, existem 100 dicas muito legais de como dar um upgrade para melhorá-la. Acho que vale a pena escolher uma delas pra realizar por semana. Mal não faz.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A MULHER INVISÍVEL

Mes passado vinha juntando os cacos pra escrever algo sobre o encantamento e a dissolução dos relacionamentos quando me surgiu na cabeça o título da postagem: A Mulher Invisível.

Enquanto formatava as idéias, em um dos blogs que leio, um ávido escritor postou um artigo com o mesmo título. Putz! 

Porém antes de me desencantar com a coincidência, resolvi aproveitar o gancho e identificar, pelo menos, tres tipos de mulheres invisíveis que permeiam o fabulário masculino.

A primeira delas, aquela descrita pelo ávido escritor, é sobre a mulher acostumada a causar frisson por onde passa; os homens ficam alucinados, a mulheres mordem-se de inveja. Até as árvores torcem os galhos para tocar-lhes os cabelos. Ela não caminha: desliza com seus pezinhos de princesa. Mas eis que tem um dia que o encanto desaparece como se a camada de feromônios houvesse evaporado  pela camada de ozônio e ela, por mais que se esforce em trejeitos, penteados, maquiagem, rebolados, assanhamentos, não consegue atenção dos rapazes e passa despercebida na multidão. Não há nada mais deprimente para esta mulher do que deixar de ser vista e desejada.

A segunda mulher invisível faz o tipo Luana Piovani, do filme homônimo. Esta faz parte da imaginação dos loucos, dos poetas e dos sonhadores. E faz um mal danado. Especialmente pelo óbvio: porque não existe. E por não existir fica criando falsas esperanças do tipo "talvez quem sabe um dia/por uma alameda do zoológico/ela também chegará..." E aumenta a solidão no coração dos iludidos esperançosos.

O terceiro tipo é aquele mais crônico. Trata-se daquela ex que já foi abduzida de sua vida e atirada no limbo de sua mente sem lembranças até que um dia seus caminhos se cruzam e ela comenta que lhe viu semana passada numa exposição de espadas japonesas. Você até se lembra que esteve na exposição mas não se lembra de tê-la visto ( já nem se lembrava de suas feições ) mas ela insiste e diz que você a viu pois estava do seu lado e que só não lhe cumprimentou pois estava com o novo namorado a tiracolo e tinha que se comportar como uma moça-de-famíla-bem-educada-pronta-pra-casar. Você não insiste. Ela não guarda rancores, embora você possa sentir um desprezo ( perdão do trocadilho) em sua voz afiada. Você sorri e diz que foi bom vê-la assim tão radiante, mas pede desculpas educadamente e diz que não pode ficar para conversar mais um pouco pois sua namorada - a Mulher Maravilha - está lhe esperando no avião invisível para uma sessão de filmes, hoje a noite, no apartamento dela. E quer se emocionar assistindo uma reprise de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

BATENDO TAMBOR

De tanto falarem na macumba do Haiti, comecei a ficar preocupado com os maranhenses e os baianos que por aí levam a fama de serem da terra da macumba; mas um post vindo lá dos States em resposta às declarações de Pat Robertson me deu esperanças de não pintar nenhuma tragédia por nossas bandas. Disse o autor da postagem que " quando o diabo faz um pacto em vida com o povo, não deixa eles num índice de 80% de pobreza, como no Haiti, mas com muita riqueza, beleza, talento, saúde, fama e glória. Depois de morto é outra história". Quer dizer, essa coisa de riqueza, beleza, etc., tá mais pra pacto no primeiro mundo que pra nós.

Aqui no Maranhão a terra da macumba é Codó. Os eruditos da cultura maranhense contabilizaram cerca de 250 terreiros de macumba naquela cidade que deve ter algo em torno de 100 mil habitantes. Proporcionalmente, seria como se o município de São Paulo tivesse hoje 27.500 terrreiros de macumba.
Há pouco tempo, morei lá uns 3 anos e às vezes as coisas mais simplórias acabam desandando pro lado do feitiço.Uma das situações engraçadas que presenciei foi numa noite que faltou energia e um dos colegas foi comprar uma vela na quitanda e voltou sorrindo com a seguinte história:
 - Fui naquela quitanda da esquina e perguntei: Moço o senhor tem vela?
E o quitandeiro disse:
- De que cor?

Quer dizer, se você não especificar o que você quer exatamente pode acabar com sapo na barriga.

Mas a situação mais inusitada ocorreu-me em Fortaleza. Duas amigas me convidaram para uma feijoada num final de semana na casa de um conhecido na periferia e passamos o dia numa festa agradável, com cerveja, música e churrasco. No começo da noite elas me chamaram para ir "ali". Nessas hora o cara com 20 anos só pensa sacanagem. Aí eu fui. Caminhamos um bom pedaço até chegar numa casa que só me dei conta que era um terreiro de macumba quando entramos. E tinha que deixar o sapato no canto.

Quando os tambores começaram a bater, os presentes iniciaram o ritual da dança. Mulheres de um lado, homens do outro. E eu lá. Com poucos minutos de dança, tambor pipocando, alguns dançante foram ficando em transe e começaram a cair no chão se tremendo todo. E caía um e caía outro e foi diminuindo a quantidade de gente que estava em pé. Eu era um deles e pensava: daqui a pouco sou eu que tô no chão me tremendo  e babando todo. Comecei a articular uma maneira de escapar dali.

Aí tive a idéia de dançar e espiar onde estava meu sapato no meio de um monte de sapatos. Dançava, ía de uma ponta a outra até passar perto dos sapatos e dava uma espiada pra localizar o meu. Uma hora vi meu sapato e na passada da dança, me abaixei, estiquei o braço. peguei os danados pelo cadarço e dei uma escapulida pela porta.

Cinco minutos depois, tô lá no meio da rua fumando um cigarrinho, olhando a lua ,quando alguém me bate no ombro e diz: "Meu amigo você tem que voltar pro terreiro senão a Pomba-Gira não vai baixar". Olhei pro cidadão e disse: " Meu compadre, se depender de mim a Pomba-Gira não vai baixar hoje!" E não voltei mesmo.

No dia seguinte, perguntei pras minhas acompanhentes o que fomos fazer lá no terreiro. E elas responderam que uma delas suspeitava estar grávida e que a Pomba-Gira identificaria as grávidas no terreiro E a fulana tava mesmo grávida.

É!!! Vivendo e aprendendo! Ah, o filho não era meu!!!!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

DIZE-ME O QUE TU FALAS E TE DIREI QUEM ÉS!


O extrapolamento da justificativa para a causa do terremoto dado pelo cônsul haitiano George Samuel Antoine, radicado a 35 anos  no Brasil, em que o mesmo responsabiliza a " macumba e maldição africana"  pela catrástrofe e ainda vê o lado bom da desgraça pois isto tornaria o país mais conhecido, vem angariando aliados sinistros que deveriam por um zíper na boca antes de sair comentando asneiras nos ouvidos alheios.

Um deles é o líder evangélico Pat Robertson - o homem que vê o diabo por todo lado. Robertson, " o sabe-tudo", pregou a seus seguidores, à mídia e a quem quisesse ouvir que a culpa da tragédia no Haiti estaria relacionada a um pacto que os haitianos fizeram com o diabo em 1804 para expulsar os franceses do país. Só faltou dizer que a fonte da informação foi um telegrama que ele recebeu diretamente do inferno.

Leitores com índole de magistrados do Juízo Final, questionam na mídia se Deus é bom e justo quando aperta um botão e faz a terra tremer matando inocentes, criancinhas e velhos desta forma. E mais outros sofismam. Parecem ter a carteirinha de sócio da Ku-Klux-Klam. Este grupo justificam que na verdade Deus não gosta negros, pois basta ver a situação da África. Tudo que é doença tem na África. Dizem que Deus prefere os colonizadores, como os franceses que exploraram anos a fio o Haiti e também várias nações africanas, e graças a isso, a essa exploração colonizadora a França vai muito bem, obrigado.

Depois da gafe, o consulado haitiano mandou um comunicado à imprensa informando que o cônsul foi mal interpretado pois ele fala várias línguas, mais ainda não fala bem o português.

Depois de 35 anos? Ah, tá!!!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

CATÁSTROFES ANUNCIADAS

O evento catastrófico ocorrido no Haiti tem sua origem no movimento das placas tectônicas.

O conceito de placas tectônicas foi desenvolvido a partir da Teoria da Deriva Continental oriundo por sua vez da teoria de Wegener de que no passado todos os continentes se reuniam numa única massa de terra chamada Pangéia.


 Supercontinente Pangéia
Imagem:vsites.unb.br/ig/sis/danca.htm

Este supercontinente ao longo de milhões de anos sofreu modificações devido ao movimento e ruptura da Litosfera, por conta de atividades térmicas do interior da Terra. O movimento destas placas é resultado das correntes de convecção oriundas do magma, pois a Litosfera, mais leve e fria, "flutua" sobre o material mais quente e denso, existente no topo do Manto.



Correntes de Convecção
Imagem:domingos.home.sapo.pt/tect_placas_5.html

É muito improvável prever o local e hora de um superterremoto. Sabem-se apenas quais são as regiões propícias e quais são os eventuais sinais , como eventos vulcânicos ou pequenos tremores em dias anteriores, por exemplo. Mas nem sempre estes sinais são claros.

São conhecidas cercas de 8 a 12 grandes placas e umas 20 placas menores que se movem em direções e velocidades diferentes, deslocando-se entre 1 a 10 cm por ano, afastando ou unindo continentes, sendo as regiões limítrofes entre elas, as áreas mais sísmicas do planeta. O Haiti está localizado numa destas regiões.


                                                         
Placas Tectônicas: Direção do Movimento e Velocidade de Afastamento
Imagem:domingos.home.sapo.pt/tect_placas_8.html


Existem regiões que são verdadeiras bombas-relógio para as populações, como a costa leste americana na região de São Francisco, a Indonésia, e o Japão, sendo que neste último país a terra treme, pelo menos, três vezes ao dia. A diferença é como as populações destas áreas buscam minimizar o impacto de eventuais catástrofes. No Japão e nos Estados Unidos muitas construções destas áreas de risco são construídas sobre superamortecedores capazes de manter as construções em pé durante um terremoto. Em regiões mais pobres, como o Haiti, o efeito é devastador sobre as populações, pois tal como ocorre neste momento, não há infraestrutura de resgate nem suporte médico emergencial suficiente, entre outras necessidades básicas. As populações ficam a mercê da ajuda humanitária.

Terremotos como este do Haiti, em áreas costeiras, costumam trazer junto outras catástrofes, como os tsunamis, quando o epicentro do tremor se dá no fundo do mar em profundidade rasa na crosta oceânica. Felizmente este não foi caso. O mais violento terremoto registrado na história, aconteceu em Valdívia no Chile, em 22 de maio de 1960 e atingiu 9,5 na escala Richter ( que vai até 10 ). O tsunami gerado atravessou todo o Pacífico e atingiu o Japão causando inundação do porto e destruição de mais de 100 mil casas.

Embora do nosso ponto de vista social e humano estes desastres naturais sejam impiedosos nos dias de hoje, pois ceifam milhares de vidas, especula-se no meio científico sobre a importância das atividades sísmicas e vulcânicas como um dos ingredientes para a evolução da própria vida, devido a alteração química dos oceanos do mundo no último meio bilhão de anos e pelo bem-estar orgânico do planeta, haja vista que Vênus e Marte – planetas irmãos da Terra, em formação – não possuem placas tectônicas e nenhum sinal de algum ser vivo. De algum modo, parece que se não houvesse este ingrediente do interior da Terra, talvez não tivéssemos chegado a este estágio evolutivo.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PRECISANDO DE ÓCULOS AÍ, VELHINHO?

A segunda divisão do campeonato alemão chamou atenção neste final de semana pelo erro grotesco da arbitragem ao validar um gol em que a bola nem chegou entrar, ficando a 1 metro da linha, após rebater no travessão.

Nem o jogador que chutou acreditou na decisão do árbitro, mas comemorou, já que o time adversário não reclamou.

Eu pensava que estas coisas só acontecessem no futebol brasileiro. Quer dizer, aqui aconteceria pior, pois o banco de reservas invadiria o campo, a torcida também, iria haver quebra-quebra no estádio e fora dele após o jogo.

Imagine se este árbitro for do quadro da FIFA e ir à Copa?


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

JOGANDO DADOS COM DEUS


Dizem que quando se está para morrer a vida inteira passa diante dos olhos. Quando estava dentro de um carro que capotou alguns anos atrás, senti uma sensação semelhante. Naqueles poucos segundos do acidente, me veio a cabeça todas aquelas pessoas que amava e a sensação de que não as veria mais. Tudo acabaria ali. Bom, sobrevivi ao acidente e nem cheguei a ver a luz branca.


Mas no dia seguinte ao acidente fiquei mais atento às coisas que me cercavam e imaginando que se tivesse acontecido o pior não estaria ali compartilhando daquelas pesssoas e das situações presentes. Isso me fez refletir sobre duas variáveis que determinaram minha decisão na noite anterior: ir ou não ir à festa? As decisões que tomamos funcionam como um jogo de dados num RPG?

Escrevo isso tendo em mente o Gerador da Improbabilidade Finita, citado no Guia do Mochileiro das Galáxias. Uma definição engraçada para um assunto complexo: a física quântica e se podemos prever o futuro ou se ele é arbitrário e aleatório.

Na minha formação científica aprendi que os eventos se refletem em diferentes escalas, sejam elas maiores ou menores. Por exemplo, um evento geológico como um terremoto ficará gravado tanto na topografia da região quanto no interior dos minerais das rochas da região afetada.

Segundo os cientistas a física quântica somente explicaria eventos para o mundo do muito pequeno, como os átomos. Porém como somos feitos de moléculas - que é a estrutura funcional básica dos átomos - e elas são a força motriz da natureza do universo, divago sobre quem realmente toma decisões por nós na raiz do nosso instinto primordial.

Imagine que você vai sair neste instante e percebe que o pneu do seu carro está vazio. A sequência de situações que você passaria, as pessoas com quem você cruzaria ou manteria contato, não se repetirão. Você troca o pneu mas no caminho um semáforo ficou amarelo e você tem poucos segundos para decidir se passa ou não. O que você decidir irá afetar seu futuro. O filme Efeito Borboleta reflete este exemplo.

Assim, num dado instante de nossa vida precisamos decidimos seguir este ou aquele curso, se vamos fazer mestrado em outro estado, em outro país ou não, se vamos lecionar ou fazer pesquisa científica, se vamos casar agora ou só ano que vem, etc. Todas estas decisões mudam nossa vida pra sempre. E se pudessemos alterar algumas destas escolhas, nossa vida mudaria pra melhor ou para pior? São perguntas sem resposta.

Cito um trecho de Bradley Trevor Greive no prefácio do Guia do Mochileiro:

"  Longe de perder o sentido, o que você faz nesta vida subitamente torna-se incrivelmente importante, já que você só tem essa oportunidade de fazer a coisa certa, de mudar alguma coisa, de contribuir de alguma forma para aqueles que você ama ou que seguirão seus passos ".

Reporto-me a uma palestra de Stephen W. Hawking em que ele diz que na física quântica não se pode definir o comportamento de partículas que entram no buraco negro, que é possível medir somente a partícula que sai. Voltando às variáveis do acidente, não se pode tomar as duas decisões ao mesmo tempo - ir ou não ir a festa - e nem precisar as consequências. Somente posso mensurar se a decisão foi viável depois que ela de fato acontecer. Não há como prever o futuro.

Ainda na palestra, sobre este assunto Hawking finalizaria: " não somente Deus definitivamente joga dados, mas Ele algumas vezes nos confunde jogando-os onde eles não podem ser vistos".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SHERLOCK HOLMES


Ontem resolvi sair da caverna e ir ao cinema.

Eu e uma centena de pessoas tiveram a mesma idéia. Terça-feira, dia de desconto, filas enormes na bilheteria. Quase desisto.

Mas nada como encontrar conhecidos na boca da bilheteria para comprar nossos ingressos.

Ingresso na mão, encarei o novo Sherlock Holmes de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. e Jude Law.

O filme tem o ritmo veloz de aventura - marca do diretor - humor sarcástico e um suspense mantido pelo excelente som e a fotografia de uma Londres recriada do século XIX, com suas ruas de calçamento úmidas e soturnas.

O bad boy Robert cai como uma luva no papel de um Sherlock repaginado e cínico, longe daquele personagem caricato de sobretudo xadrez e chaplão de cão sabujo.

Jude Law interpreta um Dr. Watson tão perspicaz quanto o próprio Sherlock, mas também, mostra-se perito em outros assuntos: a arte da pancadaria.

Entre umas e outras deduções, eles descem a mão nos criminosos, escapam de explosões, destroem meia cidade e impedem o mundo da destruição. Nada melhor para um happy hour de início de semana.


Diversão na veia.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

CLAUSURA


    Não sublimo aos mares que
 nenúfares trazem
 nem ao ímpeto do desejo
 esta coisa algoz

meu berço é sereno e
lúcida minha voz

 quando detenho-me em clausuras
  proscrevo os demônios aflitos
   o que fazer então do amor desfeito
  senão enterrá-lo à gritos?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

AUTOAJUDA




Não faço parte da tribo que lê livros de autoajuda.
Daí não pude resistir em deixar de postar este humor sarcástico sobre o assunto extraído da revista VIP deste mes.
Perdoe-me as leitoras.

sábado, 9 de janeiro de 2010

LUTAS.DOC: VI E RECOMENDO


Conforme havia dito em postagem anterior, repasso a impressão que me causou o primeiro episódio da série Lutas.doc exibido pela TV Brasil. Embora tenha deixado lacunas no desenrolar dos depoimentos – talvez pelo formato curto dos episódios – fiquei razoavelmente satisfeito com o programa, principalmente porque envolve histórias que não nos ensinam nas escolas.

Exibido na quarta-feira passada, o programa ressaltou quantitativamente o número de pessoas assassinadas no Brasil nas últimas décadas buscando um parecer histórico que pudesse justificar o fomento desta violência. Os números impressionam: foram 516.000 pessoas assassinadas na década de 90 e 1.200.000 entre 1980 e 2000. Neste contexto, o programa questionou: o brasileiro é um povo pacífico?

Neste contexto volta-se ao período do descobrimento. Os portugueses aportam no país e se impressionam com a nova terra: madeira de lei, terras férteis, minerais preciosos e mão de obra gratuita. Esta seria a visão comercial da coroa portuguesa. O que pensaram os indígenas – originalmente canibais - quando viram as naus ao largo da baía e os primeiros homens brancos com suas indumentárias? Arrisco dizer que foi: que sabor terá esta carne branca? Sim, porque a partir daqui, o que a história trata como descobrimento do Brasil, foi na verdade a invasão comercial e capitalista dos portugueses, seguido do saque de nossas riquezas minerais e o massacre dos povos nativos, os indígenas.

Neste ponto, com a guerra anunciada entre o invasor e o invadido, outro paradoxo: o significado da guerra para os indígenas era um e o significado da guerra para o europeu era outro. Para os indígenas, a violência da guerra era um ritual. O inimigo seria capturado e comido literalmente. Um canibalismo que assustava o europeu e que os entendia como animais. A guerra para estes era uma estratégia de colonização. Uma estratégia necessária.

Outro momento oportuno destacado no programa foi o entendimento da personalidade ambígua do brasileiro. A forma de não se comprometer totalmente. Das coisas menores como marcar compromissos com amigos a enaltecer mitos cuja representatividade histórica é, no mínimo, controvertida. Exemplos citados desta ambigüidade foram  Floriano Peixoto e os Bandeirantes. 

Floriano Peixoto foi o vice de Deodoro que assumiu quando este renunciou, e que se manteve inconstitucionalmente no cargo de Presidente da República. Impopular, o ditador utilizou-se da violência para acabar com a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, e ainda assim foi homenageado em Santa Catarina, sob protestos, com a mudança do nome da capital do Estado, de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis. 

Quanto aos bandeirantes, que passaram para a história como desbravadores do sertão aumentando o território para além dos Tratados de Tordesilhas, as suas missões nada tinham a ver com estes interesses. Elas consistiam de captura de índios para escravidão, busca de pedras e metais preciosos e de sertanismo de contrato para combater índios e quilombolas. Ao longo de sua empreitada foram responsáveis pelo extermínio de diversas nações indígenas, através do banderismo de preação, que era uma atividade altamente rentável para eles.

Ironicamente, nos dias atuais, uma das principais avenidas de São Paulo recebe o nome de Av. dos Bandeirantes, e as transversais o nome das nações indígenas dizimadas por eles.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

HISTÓRIAS QUE NÃO ENSINAM NA ESCOLA: O CALDEIRÃO DE SANTA CRUZ DO DESERTO


Assisti por estes dias dois documentários que me despertaram da inércia (leia-se preguiça) deste início de ano. Foram o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, de Rosemberg Cariri e o Lutas.doc da TV Brasil, que pretendo comentar em outra postagem.

A respeito do Caldeirão a primeira coisa que me veio na cabeça é de que não se ensina esta história do Brasil nas escolas. Quando crianças e adolescentes, somos educados por alienação. Ensinam-nos a cultura da formalidade: o Descobrimento, a Independência, a Proclamação da República, etc, etc, etc. Ocultam-nos o intrínseco. O cerne da história que nos transformou em quem somos.

A história do Caldeirão é o relato vivo de uma comunidade criada por um negro, o beato Lourenço, sob a proteção de Pe. Cícero em terras cedidas por este no Cariri, em 1926, e que alheio a todas adversidades da região tornou-a próspera e fértil graças aos esforços comuns dos camponeses que a mantinham produtiva, como um oásis dentro de uma região devastada continuamente pela seca e pela miséria, inclusive no socorro a centena de flagelados da grande seca de 1932.

A prosperidade do assentamento tornou-se incômoda para a Igreja e para os coronéis das regiões adjacentes: os salesianos alegavam que dentro do Caldeirão praticavam-se cultos pagãos e os coronéis queixavam-se da perda de produtividade de seus latifúndios na medida em que a mão de obra explorada ficou escassa, pois os trabalhadores optaram pela comunhão trabalho x alimento que encontravam nas terras do beato.

Utilizando-se do poder político, das perseguições a seus inimigos e da manipulação do povo analfabeto, os coronéis e os salesianos buscaram colocar a opinião pública contra aqueles a quem taxaram de fanáticos religiosos e comunistas o que, após a morte de Pe. Cícero permitiu a intervenção policial do Estado na região, com a destruição das benfeitorias do vilarejo e dando início à dispersão da comunidade e a fuga do beato para as matas da Chapada do Araripe que posteriormente foi  invadida por terra e bombardeada pela aviação militar  numa intervenção conjunta do Exército e da Polícia Militar do Ceará, resultando no extermínio de 400 camponeses (números oficiais) incluindo mulheres e crianças.

Cerca de 50 anos após o conflito, durante o documentário, os algozes, alegando outra visão da história, buscavam o paradoxo dos seus vereditos inocentando a si próprios como agentes "cumpridores de ordens superiores".

Sob esta ótica a história estaria repleta de inocentes: não se condenaria a Igreja pelo massacre da Inquisição ou os nazistas pelo extermínio dos judeus nos campos de concentração, por exemplo.