quarta-feira, 29 de junho de 2011

A BELA QUE FUMA


De passagem pelas terras tupiniquins onde espantou-se com a falta de árvores em São Paulo, talvez se esquecendo que séculos atrás os franceses desmatavam e contrabandeavam nosso pau-brasil, La Belle de Jour despretensiosamente acendeu seu cigarro, como se ainda fosse os anos 60 e os homens caíssem a seus pés para um encontro no final da tarde. Mas quem caiu matando em cima foi a patrulha anti-tabagista, alimentada pelo furor da mídia.

Me lembrei de duas coisas na hora: a primeira foi quando expulsaram Rod Steward do Copacabana Palace, porque ele tava jogando bola na suíte e a outra foi a temática do filme Equilibrium, com Christian Bale, onde reina uma sociedade sem emoções controlada por uma droga fornecida pelo Estado. Neste contexto, acredito que a sociedade caminha de maneira irreversível para um mundo de emoções reprimidas, de sensações perdidas, de liberdades vigiadas. Embora haja centenas de pessoas querendo me provar o contrário.

Similar ao modismo de vestir-se, a sociedade, de uma maneira geral, sofre do vício maligno de atirar alguém na cova dos leões. Nos anos 80 com o advento da AIDS, foram os gays. Se o cara gostava de queimar o fiofó era tratado como um potencial transmissor do vírus e deveria ser mantido a distância de qualquer outro cidadão saudável. Agora são os fumantes, como um caso de saúde pública, pois o Estado alega gastar milhões no tratamento dos dependentes. Devem ser os mesmos milhões que eles alegam gastar na aquisição e distribuição gratuita de remédios que nunca chegam quando deveriam, pois estão sempre em falta nos postos de saúde. O dinheiro fica sempre no meio do caminho. Exemplo de um país que só funciona na teoria.

Claro que Miss Deneuve não é nenhuma santa e é do seu conhecimento que a patrulha antifumo gira o globo capitaneada por gente do quilate de Bill Gates, mas a primeira campanha antifumo que eu tenho notícia no país teve origem com a Companhia de Jesus - o braço católico da Inquisição e da Contra-Reforma portuguesa - que acampou aqui no Brasil com o primeiro Governo Geral. Assustados pela felicidade com que viviam os nativos - a quem chamavam de gentios - os jesuítas buscaram expurgá-los dos seus hábitos, entre eles o fumo, que seduzia também os aventureiros portugueses que já habitavam estas terras.

Por estas e outras e por ser contemporânea de De Gaulle, enquanto dava suas baforadas durante a entrevista, Deneuve talvez estivesse apenas levando a sério a célebre frase do ex-presidente francês de que: "o Brasil não é um país sério!"

sexta-feira, 24 de junho de 2011

MODAS PASSADAS QUE VOCÊ AINDA PODE USAR


Imagino que quando você olhou a imagem acima desta radiola de pilha sentiu logo saudades da sua coleção de AS 14 MAIS que você ouvia mascando um Ping-Pong enquanto lia a nova revista de Tex Willer. É amigo, o tempo passa e algumas coisas voltam. Quem sabe você não volte a usar um dos itens abaixo:

CAPANGA
O que era: Uma bolsa com alça (saca o mala sem alça?) que o sujeito colocava debaixo suvaco e que dava pra levar documentos, dinheiro, um maço de cigarros Pall-Mall e um três-oitão.
Possibilidade de Retorno: Altíssima. Já tem uns Waldicks Sorianos boleiros circulando com elas debaixo das axilas..



POCHETE DE COURO:
O que era: Uma bolsa que você prendia na cintura e ficava parecendo um marsupial.
Possibilidade de Retorno: Altíssima. Já tem uns cangurus umas figuras circulando com elas.


CAMISA VOLTA AO MUNDO
O que era: Uma camisa feita de nylon e que dava uma inhaca no sujeito depois que ele suava.
Possibilidade de Retorno: Muito baixa.



BASQUETEIRA
O que era: Nome comum dado a qualquer tênis tipo Conga e Kichute.
Possibilidade de Retorno: Retornou como tênis de Basquete Cano Longo de marcas famosas.


MULLETS
O que era: O corte de cabelo mais ridículo de todo o universo conhecido e que pegou que nem piolho em cabeça de pobre. Saca aquele estilo Chitãozinho e Xororó?
Possibilidade de Retorno: Improvável


CABELO BLACK-POWER
O que era: Estilo de penteado para cabelos crespos ou ruins que se mantinham arrumados utilizando-se pentes com dentes de aço, estilo gadanho.
Possibilidade de Retorno: Muito baixa, pois a onda agora é chapinha.



SAPATO CAVALO DE AÇO
O que era: Sapato masculino estilo plataforma com saltos altos e grossos. Geralmente polidos e reluzentes com cores berrantes. Ótimo pra baixinhos.
Possibilidade de retorno: Raríssima


CALÇA BOCA DE SINO
O que era: Uma calça juta da cintura até os joelhos. Daí pra baixo alargava até a boca cobrir os pés. Geralmente era usada arrastando no chão e desfiada na ponta. Quem não tinha uma mandava a costureira abrir do lado e alargar com panos, as chamadas nesgas.
Possibilidade de retorno: Média a alta, mas nunca no estilo hippie original e sim no estilo falso riponga.


BÔNUS:
COMBINADO 3 em 1:
O que era: Juntar 3 estilos em um único visual tipo cabelo black-power, calça boca de sino e sapato cavalo de aço.
Possibilidade de retorno: Só nos remakes da tv.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

CUECAS & CALCINHAS



Homem é bicho bruto quando vai comprar cuecas. Entra na loja e pega um daqueles kits com cores sortidas - leve 6 e pague 5 - e pronto! Tá satisfeito! Mas daí que tempo atrás, li uns comentários de algumas mulheres lindas e maravilhosas opinando sobre suas preferências em relação às cuecas dos homens. O que ficou de consenso é que elas preferem que seus namorados usem cuecas brancas. Pensei, relutei, mas saquei o óbvio: cuecas brancas e limpas lhe dão aquele aspecto limpo e asseado de quem acabou de sair do banho. Daí é só esperar que elas venham com o talquinho.

Eu sei que você aí, que ainda usa aquelas cuecas de copinho deve tá achando que isso tudo é uma besteira, que mocréia que é mocréia não tá nem aí pra cor de sua cueca. Não discordo de você porque também acredito que o amor é cego, mas em terra de cego que tem um olho é rei. Desde então, considero que existe a possibilidade real de me encontrar em uma situação que eu seja obrigado a ficar apenas de cuecas e portanto procuro preservar a indumentária do superman.

Uma situação atípica é você estar num local público e coletivo, sofrer um assalto e todo mundo ser obrigado a ficar em roupas íntimas. Já pensou se neste fatídico dia você estiver com aquela sua cueca furada na bunda? Ou aquela que está com elástico tão deformado que pra prender na cintura você ter que dar um nó?

Agora quando vai comprar calcinhas pra namorada o bicho bruto se torna um homem sensível. E predador. Predador porque naquele clima de lingeries transparentes com a atendente da loja, já tenta encaixar um papo:
- Gostei dessa, o que você acha?
- É bonita! Você acha que fica bem na sua namorada?
- Acho que sim... Ela tem o corpo parecido com o seu...Você acha que fica bem em você?

E calcinha de mulher tem todo um ritual de cores ilustrado ao lado, de acordo com um fabricante das mesmas. Isso leva a lógica fundamental de que para entender o estado de espírito de uma mulher é necessário saber a cor de suas peças íntimas. Dize-me o que vestes e te direi quem és! Isso me reporta a um acontecimento onde um amigo conseguiu um encontro com uma garota que ele vivia azarando algum tempo. Encontro marcado, horário acertado, foram ficando naquele clima de alegria e descontração até quando ele a despiu de suas roupas e ela ficou apenas de calcinha na sua frente.
E aí a pergunta que não quer calar que todo bom amigo faz nestas horas:
- E aí, tu comeu?
Ele meio desconcertado respondeu:
- Cara, naquele momento eu brochei. Quando ela ficou na minha frente sorrindo, com aquela calcinha estampada com a cara de Leandro & Leonardo, um coro de anjos desafinado começou a cantar no quarto: "É o amooooor/que mexe com minha cabeça e me deixa assim..."


sábado, 18 de junho de 2011

A MODERNIDADE E A TROCA DE SEXO

A grande invenção dos próximos anos será uma maneira rápida, prática e indolor de mudança de sexo. Rápida e indolor como o sujeito tomar uma pílula antes de dormir e acordar com o pinto seco como planta murcha e desidratada, e daí dar um peteleco nele pra dentro do vaso sanitário, uma descarga e tchau.

Eu que cresci apenas com dois gêneros do substantivo - masculino e feminino - aprendendo na palmatória, me surpreendo com a coletividade de espécies que circulam por aí. De travestis a transexuais, figurinhas que cabem numa sigla: GLS. Aliás, os únicos que eu nunca vi desta trupê, foram os S, os tais de simpatizantes. Mas, no geral, eu nem sei quais são as diferenças conceituais entre eles, apenas encaro como se fossem Neanderthals e Homo Sapiens vivendo no mesmo período geológico.

O negócio liberou geral!!! Semana passada, uma amiga me disse: "Jorge, os meninos tudo querem ser gays porque agora é moda! Culpa das novelas!". Ainda bem que eu não assisto novelas, mas imagino o diálogo  numa família super-moderna:
- O que você quer ser quando crescer?
- Eu quero ser gay!
- Gay, meu filho?!?!? Mas porque? Que ideia é essa?
- Gay, pai!!! Já ouviu falar do dia do orgulho gay? Você conhece outra classe que tem o seu dia de orgulho?
- Não...
- E parada gay, já ouviu falar? Que outra minoria tem direito a uma parada dessas?
O pai ia falar da parada de 7 de setembro, mas nem ele mesmo se lembra se isso ainda existe...

Dia do Orgulho Gay, Parada Gay... Vamos reconhecer que esta turma É criativa quando o assunto é brigar por seus direitos. Sorte nossa que nos tempos primórdios só existiam Adão e Eva.

Isso me reporta à Verdadeira História do Paraíso, de Millor Fernandes. Segundo ele se Deus tivesse feito a mulher antes do homem, imaginem os palpites que ela ia dar na nossa confecção?
- Ih, Todo-Poderoso, não põe isso não, põe aquilo! Ah, que bobagem, que nariz feio! Deixa ele careca, Todo, deixa! Põe mais um olho, põe! Ah, pelo menos bota um vermelho e outro amarelo, bota! Puxa, Todo, você não faz nada do que eu peço, hein? É de barro também, é? Parece um macaco, seu! Você é errado, Todo-Poderoso! Ah, não põe dois braços não, deixa só eu com dois braços, deixa! Não põe boca não, põe uma tromba! Ficou pronto depressa, não foi? Você deixa eu soprar ele, deixa? Deixa que eu sopro, deixa! . Agora eu digo: já imaginou se o Criador tivesse começado pelos gays?

Eu acho que a coisa vai evoluir de tal maneira que vai chegar o dia em que os indivíduos vão nascer sem sexo, que nem anjos. Daí quando der vontade vão passar na farmácia e comprar um kit sexual sortido na promoção - leve seis e pague  cinco - com adesivos semelhantes àqueles contra nicotina e grudar o sexo no corpo conforme o signo ou a fase da lua naquele dia: Quinta-feira, dia de pegar mulher: adesivo de homem; Sexta-feira, dia azarar um bofe: adesivo de mulher; Sábado, dia de putaria total: adesivo de homem e de mulher.

Cada minoria lutando por seus direitos. Em breve nós, os hetéreos, é quem seremos minoria. Eu já tô levantando o pau da bandeira deixando de sugestão um adesivo pro vidro do carro pra nossa espécie ser melhor identificada na multidão!



sexta-feira, 10 de junho de 2011

ALMOÇO ÀS ESCURAS

"Não coma neste restaurante"

Cheguei a conclusão que só existem dois tipos de restaurantes: aqueles que você olha a comida antes de pedir e aqueles que você não vê o que vai comer. Os primeiros fazem o tipo self-service onde você faz uma mistura explosiva de gases retardantes cuja equação desbalanceada lhe reporta às aulas de química do ensino médio e geralmente quando você sai de lá e volta pro serviço, com aquela cara de lerdão, olha pras paredes e pensa em voz alta: "Pô, só faltava uma rede agora, porque as paredes já tem!"

No caso daqueles últimos tipos, eles se dividem em duas sub-espécies: aqueles que você não vê nadinha da comida que você vai pedir e aqueles que tem uma foto do prato que você vai escolher  no cardápio. Neste caso, por experiência própria recomendo comer naqueles que você não vê a foto porque a decepção - se houver - é sempre menor. Evite aqueles que colocam a foto no cardápio. A sensação que eu tenho é de que a comida não é tão boa quanto parece e a foto tem um efeito subliminar na sua fome, porque quando a refeição chega, sua primeira reação é correr pra pegar o cardápio novamente, olhar pra foto, olhar pro prato, chamar o garçom e perguntar:

- Tem certeza que foi este o prato que eu pedi?
- Com certeza, senhor!
- Mas olha a foto aqui no cardápio...Tá diferente...Era pra ser mais colorido...Mais suculento...
- É porque no dia que tiraram esta foto, o dia estava bem claro, diferente de hoje que tá chovendo...O senhor sabe, a iluminação faz a diferença nas fotos...

Um garçom que entende de fotografia... Será que o cozinheiro é comediante?

Hoje aconteceu uma cena parecida comigo. Faminto, pois só consegui sair para almoçar lá pelas 14:00hs, pedi um prato da fotografia: arroz com legumes e um filé trinchado acompanhado de fritas amarelinhas, douradas e suculentas que me deixaram com água na boca. Depois de uns vinte minutos percebi que os atendentes haviam esquecido de mim pois observei que eles discutiam entre si enquanto pegavam refeições que vinham da cozinha e me olhavam e apontavam pra outra mesa e me olhavam de novo e discutiam e eu, evitando pensar que o garçom que me esqueceu era um FDP, utilizava todo meu poder zen e pensava nas batatas amarelinhas e no filé trinchadinho. Dez minutos depois (que pareceram meia hora) o garçom trouxe o prato e um pedido de desculpas pela demora. Apesar da fome o prato não parecia com aquele da fotografia. Pra começar era difícil distinguir quem era batata de quem era filé trinchado, pois elas estavam da mesma cor da carne. Decidi a arriscar pelo sabor, mas a primeira batata que coloquei na boca estava dura e mal frita. Mas fome é foda. Comi e a boa notícia é que já se passaram mais de cinco horas e continuo vivo. 

Na hora de pagar a conta pensei em entregar ao garçom apenas a metade do valor que foi cobrado aguardando ele me dizer:
- Senhor, está faltando dez reais...
- Não foi vinte reais a conta? Aí estão os vinte reais...
- Aqui só tem dez reais, senhor...
- Não amigo, isso é uma nota de vinte. Você não está vendo direito por conta da iluminação. É que hoje tá chovendo. Você sabe, pouca iluminação atrapalha....