sábado, 9 de janeiro de 2010

LUTAS.DOC: VI E RECOMENDO


Conforme havia dito em postagem anterior, repasso a impressão que me causou o primeiro episódio da série Lutas.doc exibido pela TV Brasil. Embora tenha deixado lacunas no desenrolar dos depoimentos – talvez pelo formato curto dos episódios – fiquei razoavelmente satisfeito com o programa, principalmente porque envolve histórias que não nos ensinam nas escolas.

Exibido na quarta-feira passada, o programa ressaltou quantitativamente o número de pessoas assassinadas no Brasil nas últimas décadas buscando um parecer histórico que pudesse justificar o fomento desta violência. Os números impressionam: foram 516.000 pessoas assassinadas na década de 90 e 1.200.000 entre 1980 e 2000. Neste contexto, o programa questionou: o brasileiro é um povo pacífico?

Neste contexto volta-se ao período do descobrimento. Os portugueses aportam no país e se impressionam com a nova terra: madeira de lei, terras férteis, minerais preciosos e mão de obra gratuita. Esta seria a visão comercial da coroa portuguesa. O que pensaram os indígenas – originalmente canibais - quando viram as naus ao largo da baía e os primeiros homens brancos com suas indumentárias? Arrisco dizer que foi: que sabor terá esta carne branca? Sim, porque a partir daqui, o que a história trata como descobrimento do Brasil, foi na verdade a invasão comercial e capitalista dos portugueses, seguido do saque de nossas riquezas minerais e o massacre dos povos nativos, os indígenas.

Neste ponto, com a guerra anunciada entre o invasor e o invadido, outro paradoxo: o significado da guerra para os indígenas era um e o significado da guerra para o europeu era outro. Para os indígenas, a violência da guerra era um ritual. O inimigo seria capturado e comido literalmente. Um canibalismo que assustava o europeu e que os entendia como animais. A guerra para estes era uma estratégia de colonização. Uma estratégia necessária.

Outro momento oportuno destacado no programa foi o entendimento da personalidade ambígua do brasileiro. A forma de não se comprometer totalmente. Das coisas menores como marcar compromissos com amigos a enaltecer mitos cuja representatividade histórica é, no mínimo, controvertida. Exemplos citados desta ambigüidade foram  Floriano Peixoto e os Bandeirantes. 

Floriano Peixoto foi o vice de Deodoro que assumiu quando este renunciou, e que se manteve inconstitucionalmente no cargo de Presidente da República. Impopular, o ditador utilizou-se da violência para acabar com a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, e ainda assim foi homenageado em Santa Catarina, sob protestos, com a mudança do nome da capital do Estado, de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis. 

Quanto aos bandeirantes, que passaram para a história como desbravadores do sertão aumentando o território para além dos Tratados de Tordesilhas, as suas missões nada tinham a ver com estes interesses. Elas consistiam de captura de índios para escravidão, busca de pedras e metais preciosos e de sertanismo de contrato para combater índios e quilombolas. Ao longo de sua empreitada foram responsáveis pelo extermínio de diversas nações indígenas, através do banderismo de preação, que era uma atividade altamente rentável para eles.

Ironicamente, nos dias atuais, uma das principais avenidas de São Paulo recebe o nome de Av. dos Bandeirantes, e as transversais o nome das nações indígenas dizimadas por eles.

Nenhum comentário: