quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O VELHO ARQUIBALDO


A última vez que vi o velho Arquibaldo ele cruzava a praça com sua espada enterrada nas costas carregando sua faina de Sísifo indigente.

Ninguém sabe ao certo desde quando ele tem aquele metal reluzente cravado na carne. Uns dizem que o ferimento foi adquirido durante as Guerras Púnicas, mas há quem afirme que esse desassossego vem desde a época de Alexandre, o Grande, em sua incursão na Ásia. Não sei ao certo, é verdade, e nem convém questionar a sua dor, porém certa vez a curiosidade aguçou meus sentidos e então lhe perguntei sobre o ocorrido, mas a demência que já lhe atingiu as faculdades mentais e lhe impõe devaneios fez com que ele começasse a dissertar sobre o ciclo reprodutivo da poecilia reticulata durante o verão nos charcos mexicanos.

Às vezes percebo que ele fica balbuciando palavras incompreensíveis como um velho alquimista medieval enquanto alimenta as aves, mas eu poderia jurar que tais palavras são poemas de Homero recitados em grego arcaico. Porém, como de outras vezes, eu posso estar enganado e o velho Arquibaldo esteja apenas falando a linguagem dos pombos.

3 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

O velho, Jorge, vive em outra dimensão. Abraços

Jorge Jansen disse...

São meras visualizações diárias dos transeuntes da Praça João Lisboa que eu incorporo aos meus devaneios pois "a demência já me atingiu as faculdades mentais". KKKKK!!!!

Antonio José Rodrigues disse...

Sintomas, Jorge, do delirium tremus (KKKkkkkk)