quarta-feira, 28 de março de 2012

QUINTAIS

Hummm...qual galinha vamos comer hoje?

Os quintais estão em extinção. O quintal da minha infância foi na casa do meu avô onde ele criava galinhas, patos e porcos. Na verdade, eram dois quintais. Este da foto ficava nos fundos da casa e o outro, que era de terra preta daquelas que deixa as unhas muito sujas e os pés encardidos, ficava ao lado. Era cheio de goiabeiras - daquelas vermelhas e suculentas - alguns pés de carambolas e uma meia dúzia de jabutis adultos que perambulavam diuturnamente sobre as folhas úmidas acumuladas no chão fabricando jabutizinhos.

Anos mais tarde, quando nos mudamos para o Monte Castelo, havia na casa dos meus pais um quintal agradável de chão batido com uma goiabeira farta de frutos onde na época da florada minha mãe preparava latas e latas de goiabada e também doce em calda. Diferente daquelas da casa do meu avó, esta goiabeira dava goiabas brancas. Goiabas pêras. Nas horas em que eu não estava no colégio era possível que eu estivesse escalando a goiabeira com uma coragem que eu não teria hoje e ficava lá em cima, lá no "olhinho", sentado num galho balançado pelo vento, mordendo uma goiaba e espiando o murmurinho da rua.

As casas diminuíram de tamanho, os quintais encolheram; aqueles maiores se transformaram em condomínios de casas apertadas ou prédios de apartamentos espremidos. Perdeu-se a privacidade, a segurança, o chão de terra virou cimento, concreto, revestimento. As árvores agora cabem dentro de vasos, transformam-se em bonsais estéreis; seus frutos brotam apenas nos balcões das feiras. As galinhas, patos e porcos são partes congeladas embaladas em papel filme nas geladeiras dos supermercados

Hoje resisto na última trincheira mantendo em casa  um pequeno quintal onde posso colocar uma cadeira de balanço na sombra e contemplar o silêncio ou uma paz caseira depois de trabalho;  ver e ouvir a passarinhada que vem se banhar nos respingos da caixa d'água de manhã cedinho e depois procurar migalhas de alimentos pelo chão; alimentar um jabuti que adora quiabos e morder calcanhares alheios ou simplesmente observar meu gato caminhando lentamente - como um lorde inglês na Cashemira - para o seu banho de sol matinal.

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