quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BENGALA



Pouca gente sabe, mas pelo menos uma vez, a vida lhe oferece uma bengala. E isso pode acontecer aos quinze, aos quarenta, aos oitenta anos. Nunca se sabe como se vai usá-la. E nem se sabe o tempo de cada um.

Aliás, o tempo é essa coisa irrequieta que é de manhã e mais tarde é noite e quando menos se espera já aparecem alguns cabelos brancos o filho entra correndo pela casa com uma bola na mão e quando volta já tem no rosto uma barba adolescente e diz tchau pai volto só de madrugada.

E se você caminha pelas ruas dana-se a rabiscar poesias nos postes e nas portas fechadas das casas. Mas é assim mesmo. Um número, um pássaro. Debaixo do azul do céu ficam as cidades habitadas por nós e cada rua tem uma lembrança de uma outra. Ninguém escapa ileso das lembranças. De uma você sorri. De outras, chora. Mas na compensação dos dias você sente falta de todas desde o momento que lembra delas.

Da infância me lembro um dia correndo com um catavento de papel em uma das mãos e um sorriso no rosto. Onde perdi esta aquarela?

De ontem me lembro do tempo perdido por não dizer que te amava e o tempo passou e ninguém disse e por assim não dito, assim ficou.

Parece patético remoer o passado. É poeira sobre poeira e nada mais. Apenas o pó.

Herança de estrelas seculares.


Um comentário:

Ludi Knaus disse...

Nossa Jorge, que lindo o texto...fiquei sem palavras.
Vc escreve muito bem, parabéns!
E obrigada pela visita =]
Bjos