sábado, 28 de novembro de 2009

O CASARÃO DO CAMPO DE OURIQUE

A foto ao lado é um cartão postal comum nas bancas de revista da cidade. Mas para mim esta era apenas a casa do meu avô. A casa onde nasci e vivi até os 5 anos de idade. O casarão do Campo de Ourique é de onde residem minhas primeiras lembranças de uma infância feliz.  Lembranças de um tempo mais tranquilo, de almoço em família, de brincadeiras de criança no terraço. Tempo em que as casas não possuiam grades nas janelas, os muros eram baixos e que não se vivia na reclusão das casas como se vive hoje em dia.

Minhas lembranças não seguem uma ordem cronológica e estão misturadas a várias fotografias amareladas que conservo até hoje. Lembro-me de ter visto pela janela do quarto da minha avó, ao entardecer, um barco a vela descer pelo rio Anil; o dia que prenderam um ladrão de galinhas no quintal dos fundos da casa; os copos vibrando dentro da cristaleira quando eu passava correndo pelo assoalho de madeira da sala de estar; a escada em espiral que levava à cozinha e ao porão, um local escuro e que eu achava sombrio e esquisito; o dia em que meu irmão nasceu, vindo da maternidade; o santuário de minha avó numa sala adjunta ao meu quarto; o dia em que joguei fora o meu pipo sob o comando do palhaço Arrelia, desta sacada na foto, para espanto de meu pai.

O casarão existe até hoje e foi reformado pelos atuais proprietários conservando o estilo art nouveau do início do século XX. Porém o quintal ao lado onde conviviam enormes jabutis, perus e galinhas, sob a sombra de várias goiabeiras, deu lugar a um prédio comercial, levando consigo a luminosidade daqueles dias, com suas manhãs e tardes preguiçosas em que o tempo demorava a passar e que agora restam apenas nas minhas lembranças e fotografias.

Nenhum comentário: